Barco Encalhado
Foi a derradeira evidência do meu fracasso,enquanto companheira afectiva de outrém...
Foi o derradeiro momento em que vi, ouvi e senti que eu, ao navegar num barquinho em alto mar, não remo da mesma maneira que a outra pessoa, que viaja ao meu lado.
A metáfora é obvia.
A solução nem por isso.
Particularmente, o trabalho de equipe é construtivo, adaptativo mas trabalhoso.
Imagine o tal barco, apenas com duas pessoas e á volta os habituais mirones, em que um insiste porque insiste em remar não contra, mas afavor das tempestades, e o outro prefere a calmaria do mar.
O certo é que, a sincronização do caminho fica muito aquém do pleno equilíbrio emocional. Claro, que nem precisava ser em "pleno equilíbrio", bastava apenas haver "mais fé e menos fadiga".
Fazer uma atribuição causal externa seria o mais fácil:
- "A culpa é dele... ele é que remava mal..." E depois enumeraria todos os seus defeitos...
Mas o problema surge quando, tu não segues o mesmo compasso de forma compassada com todos os teus colegas de remo, que fizeram equipe contigo ao longo da tua viagem.
Aí o problema, ou grande parte dele advém, necessariamente, de ti. Então, acabam com o teu "contrato relacional", alegando cansaço contínuo, da tua maneira de ser.
Despedimento aceite.
Construir uma relação não é fácil.
O primeiro encontro, o primeiro beijo, o primeiro toque, as primeiras incompatibilidades, as instabilidades, as dúvidas, e por último os laços que de tão entrelaçados, (ou não), quebram...
De resto, resta um ciclo...
Por vezes pensamos: - "Bom será que este é o tal, que estará comigo nos bons e maus momentos, que vai dormir bem juntinho a mim e que me vai "Amar Amando sem Fim".
Pois sabemos que voltar a ter o primeiro encontro, o primeiro beijo custa, como também custa "dar o corpo ao manifesto", mas custa mais ainda ceder o coração.
Mas de repente pensas: - "Mas chegaste a dar o teu coração?"
Pausadamente respondes, (a saliva nesta altura é escassa), que de alguma forma dadoaste pelo menos uma parte do teu coração.
(O tempo urge.
A idade vai passando.
A minha cabeça não ajuda.
Estou no pico "de pessoa desinteressante".)
Há pessoas que conseguem levar o "barco a bom porto", outras nem por isso!
Voltei a naufragar.
Depois de alguns dias, recebi um convinte para novamente reintegerar a equipe de remos.
Neguei.
Nego, porque já não sinto a mesma paixão pelos remos.
E depois, porque... "de tanto naufragar, já não me poderia achar..." (como diria o grande António Botto)
Fiquemos assim.