Primavera das Liberdades

Aromas, Sussurrares, Lantejolas, Marionetas, Curvo, Respeito, Volátil, Surrupiar, Voar, Amar e Ser Imperfeito... Tudo o quanto posso... Tudo o quanto devo...

Tuesday, October 24, 2006

Barco Encalhado

Foi a derradeira evidência do meu fracasso,enquanto companheira afectiva de outrém...
Foi o derradeiro momento em que vi, ouvi e senti que eu, ao navegar num barquinho em alto mar, não remo da mesma maneira que a outra pessoa, que viaja ao meu lado.
A metáfora é obvia.
A solução nem por isso.
Particularmente, o trabalho de equipe é construtivo, adaptativo mas trabalhoso.
Imagine o tal barco, apenas com duas pessoas e á volta os habituais mirones, em que um insiste porque insiste em remar não contra, mas afavor das tempestades, e o outro prefere a calmaria do mar.
O certo é que, a sincronização do caminho fica muito aquém do pleno equilíbrio emocional. Claro, que nem precisava ser em "pleno equilíbrio", bastava apenas haver "mais fé e menos fadiga".
Fazer uma atribuição causal externa seria o mais fácil:
- "A culpa é dele... ele é que remava mal..." E depois enumeraria todos os seus defeitos...
Mas o problema surge quando, tu não segues o mesmo compasso de forma compassada com todos os teus colegas de remo, que fizeram equipe contigo ao longo da tua viagem.
Aí o problema, ou grande parte dele advém, necessariamente, de ti. Então, acabam com o teu "contrato relacional", alegando cansaço contínuo, da tua maneira de ser.
Despedimento aceite.
Construir uma relação não é fácil.
O primeiro encontro, o primeiro beijo, o primeiro toque, as primeiras incompatibilidades, as instabilidades, as dúvidas, e por último os laços que de tão entrelaçados, (ou não), quebram...
De resto, resta um ciclo...
Por vezes pensamos: - "Bom será que este é o tal, que estará comigo nos bons e maus momentos, que vai dormir bem juntinho a mim e que me vai "Amar Amando sem Fim".
Pois sabemos que voltar a ter o primeiro encontro, o primeiro beijo custa, como também custa "dar o corpo ao manifesto", mas custa mais ainda ceder o coração.
Mas de repente pensas: - "Mas chegaste a dar o teu coração?"
Pausadamente respondes, (a saliva nesta altura é escassa), que de alguma forma dadoaste pelo menos uma parte do teu coração.

(O tempo urge.
A idade vai passando.
A minha cabeça não ajuda.
Estou no pico "de pessoa desinteressante".)

Há pessoas que conseguem levar o "barco a bom porto", outras nem por isso!
Voltei a naufragar.


Depois de alguns dias, recebi um convinte para novamente reintegerar a equipe de remos.
Neguei.
Nego, porque já não sinto a mesma paixão pelos remos.
E depois, porque... "de tanto naufragar, já não me poderia achar..." (como diria o grande António Botto)

Fiquemos assim.

Wednesday, October 18, 2006

Ponderação de Histórias

Será errado apoderar-me de histórias que vou observando ao longos dos meus momentos?
Será errado retirar delas um sentido, que é meu? Terá o mesmo significado para as pessoas envolvidas? E mesmo para quem lê...
Será errado envolver-me...
Será errado narra-las em tom operário...

Mas...
As histórias já não são só delas, nesses momentos, o meu caminho cruza-se com as dessas histórias. Á espera de serem figuradas por um rosto, por um corpo, por uma vida.

Só assim faz sentido a "Primavera das Liberdades!"


Naquela noite, (mais uma noite), uma noite de um recente Outubro...No ar, um cheiro de quente-frio. O café, (local das minhas noites caídas), estava semi-cheio, semi-vazio, dependendo da óptica do observador.
Entrou, então, o menino. Dirigiu-se de imediato á cozinha, onde minha mãe se encontrava. O menino e a minha mãe sempre se entenderam bem. Ambos falam com a mesma dedicação, com a mesma vontade, com o mesmo amor. E o menino disse:
- Céu, (nome de minha mãe), vai fazer croquetes? ( os croquetes de minha mãe fazem as delícias das crianças).
- Não filho, a Céu está a arrumar a cozinha.
- Sabes Céu...Sinto-me triste...quarta-feira faço anos e não vou ter prendas...
- Oh amor, mas então porquê?
- Oh Céu a minha mãe nem dinheiro tem, e o meu pai, ah...esse se calhar nem se lembra. No dia da criança, a minha mãe telefonou ao meu pai e perguntou-lhe se ele não ía lá a casa para me dar um aprenda, ao que respondeu:(- "tou no Odivelas-Parque e já vou pra í").
Quando o meu pai chegou, trazia com ele um porta-chaves (fazendo publicidade a um banco) que lhe tinham oferecido no centro comercial.
A minha mãe, prontamente e em tom de remendo respondeu:
- Oh amor, mas as prendas não são tudo...o amor , o carinho...
-Oh Céu, mas nem isso tenho...


Quando nos cruzamos com estes diálogos, há sempre qualquer coisa que muda em nós. Muitas vezes a mudança é apenas momentânea...Mas nesse curto espaço algo mudou...
Algum tempo atrás, vi algures num programa uma atriz, até bastante conhecida, que dizia que acreditava piamente, que todos nós antes de nascermos, escolhíamos os nossos pais.
Pondo de lado, e sem julgamentos as religiões, as filosofias de vida, as crênças, os valores de cada um pergunto:
- Será mesmo que este menino escolheu os pais que tem?

É apenas uma pergunta, sem compromissos.

Friday, October 13, 2006

Diálogo ou Monólogo




- Entre a minha alma e a tua alma existe um fosso.
Eu acredito na alma e tu ensistes em descrer. Ou sou eu que precisto em crer.
Não!!! És TU que estás errado, como sempre, claro.
Entre a minha alma e a tua alma existe um fosso. Mas não é um fosso qualquer.
Eu bebo da tua sabedoria e tu abraças o meu corpo.
Mas ficas a perder...
O meu corpo já não é como era...
Agora sou só alma...que tu não vês, que tu não crês...

- Espera...
Aguarda...
São apenas opiniões...
Alenta...

- Não. Sou eu que espero e aguardo pelo teu alento. Fui clara?

- Não foste clara... Tu sabes que eu tenho medo do escuro... e eu continuo com medo...

- Repara...que...eu também não quero falar do escuro... mas ultimamente, deito-me e já não oro, como orava.

- (risos) Continuas a mesma!

- Apago a luz e depois... é só a escuridão.

- Esquece isso, ou...muda...
Sabes... eu matei o meu espelho á muito tempo

- A sério?

- Sim , a sério...
O espelho sufoca-me, aliás tu sofocas-me.

- Eu sei...mas tu também...

- Entre nós há um fosso eu sei...
Mas também sei, e até admito que tu e eu tenhamos almas...

- Eu sei...=)